O crescimento do poder do Estado é um fenômeno constante e historicamente observável, independentemente da época ou da ideologia dominante. Bertrand de Jouvenel, em sua obra clássica “Sobre o Poder”, analisa como o Estado, ao longo dos séculos, expandiu suas fronteiras, transformando-se em uma entidade quase onipresente. Seus insights permanecem extremamente relevantes no cenário atual, onde a liberdade individual parece estar sempre em confronto com um poder estatal que nunca para de crescer.

O Surgimento e a Expansão do Poder

Jouvenel destaca que o poder estatal não surge como um monstro evidente, mas como um processo gradual. Historicamente, o poder começou de forma limitada, como um instrumento de organização social, garantindo segurança e ordem. No entanto, com o tempo, esse poder se expande e se reinventa, encontrando justificativas para se fortalecer.

Essa expansão ocorre, muitas vezes, sob o pretexto de proteção e bem-estar social. A cada crise, seja econômica, política ou de segurança, o Estado avança, conquistando novos espaços e acumulando mais controle. O que começa como exceção tende a se normalizar e se institucionalizar, deixando o cidadão cada vez mais dependente e submetido à autoridade.

O Poder Não Tem Limites Naturais

Para Bertrand de Jouvenel, uma das características fundamentais do poder é sua tendência a crescer indefinidamente. Ele não se limita por conta própria; ao contrário, busca constantemente novos meios de se expandir. Esse crescimento é alimentado pelo próprio desejo humano de segurança e estabilidade, que leva as pessoas a aceitarem — ou mesmo pedirem — a intervenção estatal em suas vidas.

Jouvenel observa que as sociedades cedem gradualmente suas liberdades ao Estado em troca de promessas de proteção, justiça ou bem-estar. Contudo, como o autor alerta, o poder estatal raramente devolve aquilo que tomou. Ele acumula prerrogativas, criando um ciclo vicioso de dependência e controle.

A Ilusão da Proteção e o Preço da Liberdade

O grande paradoxo identificado por Jouvenel é que, quanto mais as pessoas buscam no Estado uma proteção contra adversidades, mais o Estado cresce e menos liberdade resta ao indivíduo. Essa barganha — liberdade por segurança — se revela frequentemente ilusória. O preço da proteção estatal é a submissão, a perda de autonomia e a entrega progressiva da soberania individual.

Um exemplo claro está nas crises contemporâneas: a cada nova emergência, seja ela sanitária, econômica ou de segurança, surgem legislações, regulações e medidas temporárias que, no final, tendem a se perpetuar. O resultado é um Estado cada vez mais fortalecido e cidadãos progressivamente enfraquecidos em sua capacidade de agir e decidir por si mesmos.

O Perigo do Estado Paternalista

Para Jouvenel, o Estado paternalista representa uma das formas mais insidiosas de expansão do poder. Sob o argumento de “cuidar do cidadão”, o Estado assume funções que não lhe pertencem, centralizando decisões que deveriam caber ao indivíduo ou à sociedade civil. Esse paternalismo, embora possa parecer benigno, gera uma sociedade passiva e dependente, incapaz de se autogerir ou resistir às investidas do poder.

A consequência é um enfraquecimento da liberdade, da criatividade e da responsabilidade individual. Quando o Estado decide o que é melhor para o cidadão, ele mina a capacidade deste de pensar, agir e viver de acordo com suas próprias escolhas.

Um Convite à Vigilância

Jouvenel nos alerta que o crescimento do poder estatal é um processo inevitável se não houver uma vigilância constante por parte da sociedade. O poder precisa ser questionado, limitado e equilibrado. A liberdade individual não pode ser sacrificada em nome de promessas vazias de segurança ou prosperidade.

O autor nos convida a refletir: até que ponto estamos dispostos a abrir mão de nossa autonomia? Qual o preço de aceitar um Estado que se agiganta? O verdadeiro equilíbrio só é possível quando os cidadãos se conscientizam de que a liberdade é um valor inegociável e que o poder, quando não limitado, se torna uma ameaça a essa liberdade.

Conclusão

Bertrand de Jouvenel nos deixa uma lição clara: o poder do Estado é uma força que tende a crescer, e esse crescimento só pode ser contido pela vigilância e resistência dos indivíduos. Em um mundo onde a intervenção estatal avança a cada crise, cabe a nós defendermos a liberdade com firmeza, questionando o papel e os limites do Estado.

Como sociedade, precisamos lembrar que o poder nunca é entregue sem um preço e que a promessa de segurança, quando aceita de forma cega, pode nos custar aquilo que temos de mais valioso: nossa liberdade.

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